Muitas das comemorações cristãs têm, em suas essências, aspectos marcantes do paganismo. As datas chegam a coincidir muitas vezes e eu, particularmente, acho isso o máximo! Antes que me perguntem: eu não tenho religião. Eu tenho uma mescla de crenças completamente malucas. É exatamente por isso que tenho tanta afeição por essas comemorações atualmente cristãs que têm um pézinho lá no paganismo.
Primeiramente, vamos estabelecer algumas coisas.
1. Cristianismo é um termo vulgarmente usado para denominar o catolicismo e suas posteriores vertentes (como o protestantismo), mas na verdade se refere a toda e qualquer ideologia que tenha como base Jesus Cristo e seus ensinamentos. Isso quer dizer que a umbanda e o candomblé, religiões que surgiram a partir do sincretismo do catolicismo e da cultura africana, é cristã (apesar de muitos dos cristãos afirmarem categoricamente que é "coisa do diabo");
2. Paganismo é um termo vulgarmente usado para denominar religiões politeístas ou, nos dias de hoje, tudo aquilo que não é cristianismo. No entanto, a palavra "pagão" vem do latim "paganus", ou seja, aquele que mora no "pagos", no campo, na natureza. Dessa forma, o paganismo é o culto e o respeito às forças da natureza;
3. O catolicismo conviveu durante muito tempo com o paganismo em ascenção e, como acontece em toda cultura e religião, agregou a
sua ideologia vários costumes pagãos.
Entende-se dessa maneira que, ao contrário do que muitos pensam, o paganismo e o cristianismo não são ideologias opostas. Uma pessoa pode facilmente crer em Jesus e seguir seus ensinamentos, enquanto reverencia às forças da natureza. Para encarar a questão levantada a seguir, deve-se desmistificar dos conceitos errôneos que nos são impostos e tentar enxargar as coisas de forma menos esteriotipada.
Antigamente, todas as pessoas eram pagãs. Os camponeses celebravam as mudanças das estações e construíam uma série de ritos e mitos acerca da natureza. O Equinócio de Primavera era, para eles, Ostara. É o momento do ano em que o Sol está diretamente em cima do Equador, fazendo com que o dia e a noite tenham a mesma duração. Ostara é basicamente um ritual solar, sinalizando na agricultura o tempo em que as sementes são plantadas e começam seu processo de crescimento. Ou seja, simboliza o início da fertilidade. O embriãozinho que vai tomando vida.
Ostara tinha como característica em sua tradição a decoração de ovos. Os ovos simbolizavam a fertilidade da natureza e, em conseguinte, de seus deuses criadores. Além disso, era comum as pessoas esconderem esses ovos, uma vez que encontrá-los simbolizava que a pessoa alcançaria suas metas. (Alguma semelhança com a Páscoa?)
Não para por aí! Os coelhos eram tidos como um dos maiores símbolos de fertilidade do paganismo, uma vez que levavam 28 dias (um ciclo completo de lunação) para gerar e dar a luz a seus filhotes. E, cá entre nós, como eles têm filhotes! Acreditava-se naquela época que um coelho havia pedido algum favor à deusa e, em troca, botou um ovo e decorou-o, presenteando-a. Essa deusa era Ostara ou Eostre, divindade saxã que simbolizava a primavera, a ressurreição e o renascimento (outra grande coincidência, não é mesmo?). Segundo a lenda, ela teria ficado tão feliz com o presente que acabou por decidir que toda a humanidade deveria recebê-lo. Assim, o coelho passou a viajar todo o mundo no equinócio de primavera, distribuindo a alegria e o amor da fertilidade e do renascimento da deusa Ostara.
Obs: trata-se da primavera porque estamos falando da Europa, no hemisfério norte. Nessa época, os nossos índios aqui na América Latina também deviam estar comemorando de algum jeito muito especial a chegada do outono.
Ostara e a Páscoa
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