Um parágrafo sobre o mundo

Esse mundo me trucida e me desgasta. Sua beleza me parece deprimente, já que é tão pouco admirada; sua essência me perturba, por ser ela mesma tão perturbada. Arrebenta-me, esse mundo, pois que todos parecem rebentar em explosões e explodir em rebentos - enquanto rebento eu mesma em lágrimas que nunca escapam aos olhos e explodo em revoltas contidas. Não é que eu não o entenda - é que o entendo em demasia. Entendo-o em seu âmago e conheço todas as suas peripécias. E é esse saber que me causa transtornos: vejo com tanta nitidez as correntes que aos outros são invisíveis! Quero desprender-me dos grilhões que me esmagam os ossos, mas quanto mais luto contra eles, mais o seu ferro gélido comprime meus pulsos. Sinto-me sufocada por esse mundo, como se o ar me fosse impróprio aos pulmões. Eu grito, esperneio e desespero. Eu suplico para ver-me liberta desse fardo, para ver o fardo transformar-se em bálsamo. No entanto, quanto mais rogo clemência, mais a realidade parece aprisionar-me a alma, que tanto anseia pela liberdade. Cortaram-me as asas, mas ainda tenho em minha essência o impulso de voar. Crescerão um dia as asas - as minhas, novamente, e as do mundo, incrivelmente?

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