Teatro

Todos esperavam do lado de fora, com os corações nas mãos, felizes, ansiosos, prontos para mais um dia esplendido, talvez o último, mas ainda assim magnífico. Conversávamos uns com os outros, fazendo com que o tempo passasse mais rápido e com que toda aquela nostalgia se perdesse no ar junto com nossas palavras, para que então, no segundo seguinte, a mesma voltasse para a nossa alegria. Já estávamos acostumados com toda essa ansiedade, gostávamos dela, era uma adrenalina crescente, que só fazia o momento da entrada cada vez melhor. Nossos corações pareciam saltar pela boca só de pensar no que aconteceria lá dentro após alguns minutos. Tirávamos de nossas mochilas os figurinos e exibíamos os tais trajes, como se fossem relíquias. Não havia quem não gostasse de tudo aquilo, pois era tão bom que esperávamos toda a semana por aquelas duas horas de fantasia. Acordávamos na terça mais felizes, com um bom humor indescritível e fazíamos tudo sorrindo pelo resto do dia. Alguns, como eu e Carol, se encontravam e iam juntos a pé até o local, conversávamos alegremente e tentávamos andar o mais rápido possível, para sermos as primeiras a chegarem. A ansiedade era tanta que ficávamos bêbados de alegria, falávamos coisas sem sentido, parecíamos loucos, e éramos: éramos loucos por fantasia. Quando finalmente entrávamos, sentíamos-nos outras pessoas ao passar pela porta. Aquele lugar dava-nos uma paz indescritível e não queríamos sair de lá nunca mais. Lá dentro sorríamos, brincávamos, chorávamos, voltávamos a ser crianças, a viver em um mundo mágico onde tudo era possível. A magia envolvia nossos corpos, que eram movidos por essa ânsia de viver em meio à toda essa energia. Jogávamos sobre aquele palco todas nossas emoções, esquecíamos de tudo lá dentro, sentíamos-nos outras pessoas e adorávamos poder desabafar em silêncio tudo que passávamos fora dali. Queríamos pular, cantar, dançar, éramos felizes. Virávamos pessoas totalmente opostas a nós. Tínhamos que voltar a ver a vida como crianças, como se tudo fosse algo novo, “O ator é uma eterna criança” costumava dizer Álvaro, nosso querido professor. E talvez isso que deixasse o teatro tão acolhedor, essa inocência, essa pureza.
O teatro é uma das artes mais profundas, um lugar que nos desperta uma vontade de viver, é como uma janela, amplia nossa visão para o mundo, nossos conhecimentos. É uma perpétua inspiração, um lugar amigável, algo que só de imaginar já desenha um sorriso em nossas faces que com certeza estarão coradas, ou pela vergonha ou pela alegria. É encantador. Agora, vejo que a vida é apenas um ensaio pra próxima cena. Acredito que se algo pode mudar a sociedade, esse algo é o teatro, o mesmo é capaz de despertar os sentimentos mais profundos, coisas que tentamos guardar, para não vermos, que preferimos esconder, tanto de nós quanto dos outros. Coisas que temos medo de mostrar a sociedade, mas que o teatro, com toda sua beleza, mostra ao mundo. Enfim, teatro é a única arte que nunca terá fim, que sempre viverá guardada em algum lugar de seu subconsciente.

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