Liberdade

Ela olhou para baixo novamente, deixando seus olhos azuis confundirem-se com as águas profundas e nada calmas do grande mar. Era um abismo, onde, lá embaixo, as ondas cristalinas batiam nas pedras com força e determinação. Cair ali seria o seu fim, ou não. Porque, para Marianne, jogar-se de um abismo, acabar com sua vida, seria nada mais que um novo começo. E então as portas da liberdade se abririam novamente; só assim ela poderia amar de novo. O vento bateu em seus cachos, ruivos como o crepúsculo que cobria o céu como uma manta gradiente. A garota, receosa, deu mais dois pequenos passos; um deslize e o fim, ou o novo começo. Ela abriu os braços, fechou os olhos, deixou que, por uma ultima vez, o vento batesse em seu pálido corpo, restaurando-a. Inspirou o aroma salgado da área litorânea; vislumbrou o pôr-do-sol pela ultima vez. Fechou os olhos azuis novamente, e então, ela já caia. Os pássaros com seu canto arrogante fizeram reverencias pelo céu, agora banhado por um manto negro, com algumas estrelas salpicadas e uma brilhante lua cheia. Mas ela não viu a ultima lua cheia de sua vida, nem ouviu os pássaros. Pois caia. Seu coração batia acelerado, ela tinha medo. Mesmo assim, havia um sorriso nos lábios carnudos da garota. Ela havia se libertado. Caiu no mar, como havia previsto. E, dessa vez, seus olhos não se misturaram com o oceano, pois estavam fechados. Ela havia vivenciado a morte, ainda com um sorriso nos lábios, mas fora a experiência em que ela mais teve certeza de estar viva de sua vida. 
Nesse dia, quem morava no litoral, provavelmente viu um pássaro parecido com uma fênix passando pelo céu estrelado. Porém esse pássaro não era vermelho, era azul; não ressurgiu das cinzas, ressurgiu das ondas; não vinha da morte, vinha da vida. Marianne alcançou a tão sonhada liberdade afinal.

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