Máscara II

Será que as pessoas realmente gostam de quem sou? Ou será que elas gostam de quem finjo ser? Minha máscara é, afinal, tão convincente? Ou as pessoas que são inocentes deveras? A sociedade vive dizendo para sermos nós mesmos, mas, quando somos, nos criticam. Hipocrisia? Talvez ignorância. Não há como ser hipócrita e ignorante ao mesmo tempo, pois o déspota tem sapiência do correto e do errado. Se minha fala é muito culta, serei eu mais clara: as pessoas não gostam de seu verdadeiro eu, na verdade elas gostam da máscara que você usa. Mas guarde esse segredo para você, está bem? A sociedade se assusta quando a verdade é dita.
Aparento ser forte. Aparento ser excêntrica. Aparento ter personalidade. Aparento até ser feliz. Mas não sou, eu aparento ser. Uso de uma alegria que não me pertence, uso de uma personalidade tirada de minhas leituras. Não vou negar: sou uma ótima atriz. Ninguém desconfia de que essa não seja eu. Até agora usei um meio termo entre a personagem e a atriz. Mas os meios termos são como as leis brasileiras: eles dão com uma mão, tiram com a outra.
Eis a pergunta que não se cala: por quê? Por que esconder-se? Por que ser quem não se é? Por medo. Medo da dor, medo de me machucar novamente. Que vá para de baixo do tapete a minha fraqueza, que ninguém perceba minha fragilidade! As feridas criadas em meu coração ainda não cicatrizaram. Preciso de um tempo resguardando meu eu, pensando sem ter de contar os sofrimentos, aceitando-me aos poucos. É preciso uma reforma íntima.
Não quero desacreditar no amor. Eu quero amar, quero ser amada! Mas ainda será necessária muita dor para ser entendido que não nasci para esse sentimento. Toda minha paixão deve ser voltada para os livros e para as palavras. Nasci para criar um amor, e viver um romance inventado. Nasci para literatura e utopias. Nasci para as máscaras e para o teatro. Nasci para um mundo só meu, para a sociedade uma segunda face é o suficiente, uma pequena amostra daquilo que me pertence.

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