Amar, do que ser amado


O dia nascia surpreendentemente calmo e, até, um tanto quanto entediante. Já havia passado tantos e tantos dias assim... Mas abri a janela do quarto e vi a vida que, lá fora, prosperava. Os pássaros cantavam e sua melodia de repente me embalou em profunda calma, a brisa suave, o céu azul e todo o resto do cenário contribuíram para tal. Interiorizei-me em meus pensamentos e deixei-os todos fluírem em minha mente.
De que adiantaria esse dia maravilhoso se eu não tivesse a quem amar?, pensei. Realmente, de nada. Tudo que veria em tais circunstâncias seriam nuvens negras e solidão, e olhar pela janela seria motivo de irritação – pois quando não estamos bem, tudo que está em agradável equilíbrio serve para nos desequilibrar ainda mais. Por força dessa natureza egoísta que nos acompanha e, muitas vezes, infelizmente, nos domina, não nos damos conta de como amar faz maior bem para nosso íntimo do que para o íntimo da pessoa amada.
Os bons devotos de São Francisco – não que eu seja um exemplo de tal categoria – vão se lembrar certamente de sua oração enquanto prossigo com o meu raciocínio: “Oh, mestre, fazei com que eu procure mais (...) amar, que ser amado”. A maioria de nós pensa que tal desejo faz parte dessa alma humilde e altruísta que pensa antes nos outros do que em si mesmo. Talvez para ele, seja isso mesmo, afinal, foi um dos melhores homens que pisaram na Terra. Mas eu arrisco dizer que para nós que repetimos maquinalmente suas palavras, amar mais do que ser amado não tem nada a ver com altruísmo: tem a ver com bem-estar próprio.
Poucos são os que se dão conta disso: muitos são os que pensam que o problema de suas vidas está baseado no fato de não serem amados. Talvez realmente seja. Mas eu insisto em dizer que, quando amamos verdadeiramente, somos nós os verdadeiros beneficiados. Nós que desfrutamos da pureza de tal sentimento, antes de qualquer outra pessoa. A única forma de se sentir amado, é amando.
Assim, chego às grandes amizades. O que seria de nós sem elas?
Sou orgulhosa de meus vários amigos e os tenho com um apreço e uma consideração imensa, mas, acima de tudo, com muito amor. De verdade, amo meus amigos do fundo do coração e é esse o meu consolo nos momentos ruins. O amor que sinto por eles me faz feliz! Sinto-me grata por ter tal sentimento a reciprocidade devida que sei que tem, mas é o sentimento que parte de mim que me faz tão feliz.
O que seria de mim sem as risadas que eles me proporcionam e sem proporcionar também a eles tantas risadas? O que seria de mim sem ter o ombro amigo para o desabafo e, principalmente, sem poder dar o ombro àqueles que a mim pedem, para ouvi-los e ajudá-los? Isso, para mim, só não é maior do que o amor de mãe – e, mesmo assim, acredito que haja muito de tal amor na amizade verdadeira. Esse amor é um dos mais puros e mais satisfatórios. É um amor do qual eu nunca vou abrir mão. Um amor que sempre vou poder sentir da maneira mais intensa e, embora também seja capaz de me decepcionar, nunca pensarei em tais riscos quando disser a alguém:
– Amigo, eu te amo muito.

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