Sobre ecos ocos

Faz dias que não escrevo – e sinto-me quase vazia por conta disso. Na realidade, esse não é o único motivo, muito menos o principal. O que agora ocorre comigo é uma confusão de sentimentos, emoções e pensamentos. Tudo em mim está em atrito e eu fico impotente diante do incêndio que eu mesma causei em mim. Em meio a essa tribulação, assisto-me em combustão e o fogo – que antes parecia tão misterioso e cheio de um perigo que me seduzia – agora não mais me apetece.
Tudo o que mais me repugna é o vazio e o oco. Não vejo o caos naquilo que é confuso, mas, sim, naquilo que é vazio. O confuso me desafia, mas tudo o que não tem forma me entristece. O palpitar de meu coração ecoa na caverna escura que fiz de minh’alma. Oca. O que penso ecoa, o que falo se repete – sem adquirir nenhum sentido, se perdendo em meio ao nada. Aquilo o que faço não contem mais a minha essência e, sem ela, nada mais tem aquela minha característica especial (essa que cada qual deveria ter para distinguir-se). Tudo perdeu sua autenticidade.
Com medo de mim e de meu próprio potencial, fiz-me igual aos outros. Sendo que não sou. Nunca fui. Fui sempre diferente. E agora? Agora não importa. Não, não posso dizer que não importa: é claro que importa. Talvez assumir que importa seja a minha salvação.
Mas eu quero ser salva? Eu preciso ser salva?
Não, eu não preciso ser salva.
Preciso de um sentimento que me preencha – e então serei eu não mais vazia.

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