Personagem

Eu olho para o céu; ele não é mais azul. A tristeza em forma de escuras nuvens e as lágrimas em forma de gélidos pingos de chuva. Andando desorientada pela calçada, sem rumo, sem direção. Minha roupa molhada me sufocando. Tenho vontade de rasgá-la, arrancá-la, deixá-la jogada no chão. Para que alguém que passe por aqui quando o sol raiar lembre-se de mim, mesmo não sabendo quem sou. Talvez nem eu mesma saiba quem sou, talvez eu tenha criado um personagem.
E se esse tempo todo eu esteja tentando ser quem não sou? Será que meu personagem falhou?
Meus pés descalços no asfalto molhado. Talvez seja para não deixar pegadas, vestígios de existência - existência essa que nunca ninguém notou -, ou talvez seja parte de mais um dos truques de meu personagem.
No meio da rua sou só uma garota desgrenhada, cabelo embaraçado, jeans rasgado. Seria mais uma prova de sofrimento, ou mais uma característica do tal personagem?
Sinal vermelho: fim da linha ou um novo começo? Paro, espero, penso, reflito; ou sigo em frente, ignoro, esqueço, recomeço?
Ao longe eu o vejo. Dois olhares. Dois corações. Duas almas. Dois amores. Duas bocas. Um estalo.

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