As Flores de Lisbeth

O pequeno apartamento de Lisbeth vivia adornado de flores. Elas vinham das mais variadas floriculturas da cidade, com as mais variadas frases penduradas, nos mais variados cartões. Lisbeth raramente lia os cartões - pedia para que o entregador levasse-os de volta. Ela sabia que, como sempre, a letra seria feminina e caprichada e a frase seria clichê. As flores, que geralmente... eram rosas vermelhas, ela colocava aqui e ali, por aí... Elas enchiam a sala, a cozinha, o quarto, a janela e a cabeceira da cama de perfumes unos. Era agradável viver ali. As flores eram bonitas, e bem serviam a Lisbeth.
Eram, todavia, vulgares.
A moça havia se acostumado com seu perfume, sua beleza. Eram ordinários para ela.
Assim como era uma rotina entregar o cartão sem dar a mínima atenção a ele.
Não que Lisbeth desgostasse das rosas - pelo contrário: adorava-as. Mas elas perderam o encanto, pois deixaram de ter sentimento. Os homens queriam conquistá-la pelas rosas, e não pelo que eram de verdade. A essência que importava à Lisbeth, no fim das contas, não era o perfume inebriante das flores, mas sim o espírito encantador de um verdadeiro cavalheiro.
Ela sabia: rosas não a conquistariam. Ela se orgulhava disso.
Mas as rosas nem sempre vêm com um cartão escrito por uma letra qualquer e trazendo um poema qualquer...
Era primavera - o mundo florescia. E foi então que floresceu, também, o coração de Lisbeth. A campainha tocou mais cedo que o comum. "O entregador deve ter caído da cama com os pássaros", ela pensou. Mas, ao abrir a porta de pijama e com o cabelo bagunçado, não teve que sentir vergonha de sua aparência, nem assinar uma listinha de entrega.
Havia uma rosa amarela no chão - sua cor preferida.
Sentiu falta do bilhete que não teve de jogar fora.
Sorriu; sentiu. Sentimento; encanto.
Não notou que se encantava.
Recebeu a rosa por vários dias seguintes: sempre muito cedo, sempre muito amarela, sempre sem entregador ou cartão.
E essa rosa, tão simples e tão singela, fez dela prisioneira.
Ser prisioneira de uma rosa (de um sentimento, de um encanto), fez Lisbeth sorrir mais. Acordava com a campainha - sorrindo. Levava a rosa para dentro - sorrindo. Colocava-a em um jarro com todas as outras rosas amarelas - especiais - sorrindo. Trabalhava - sorrindo. E quando achava que não havia mais sorriso para sorrir, nem riso para rir... Soltava uma gargalhada deliciosa ao vislumbrar as flores amarelas.
Um dia a tal rosa amarela não apareceu. Mas apareceu um bilhete que valeu. Dizia: "É bom te ver sorrir".
Lisbeth deixou-se conquistar por flores.
Casou-se três anos depois com um professor de matemática que tinha, no fundo da sua casa, uma pequena estufa, onde plantava rosas. Plantava porque sabia que elas tinham o poder de fazer sorrir.
Ele amava sorrisos. Mas amava muito mais o sorriso de Lisbeth - e por isso lhe queria sorrindo todas as manhãs.

0 comentários:

Postar um comentário