SOBRE A COMEMORAÇÃO QUE DEVERIA SER LUTA – E PARA ALGUMAS REALMENTE O É

Nesse 8 de março não me dê rosas, dê-me respeito.

Obrigada, mas eu não quero seu presente, moço. E nem agradeço sua gentileza. Quero outro tipo de presente, quero uma gentileza que dure o ano inteiro. Quero que as ruas, que são hoje cenário colorido de rosas e sortido de sorrisos e palavras bonitas, sejam seguras para mim. Quero poder andar por aí à noite sem temer o homem que vem andando a passos largos em minha direção, sem receber olhares indiscretos que me deixam embaraçada, sem ter que ouvir cantadas que mais parecem vômitos de insulto. Quero poder por a roupa que bem entender, sem ter que ouvir “essa é vagabunda”, “ela mereceu” ou “quer provocar”. Quero que você, moço, entenda que nem tudo na vida de uma mulher tem a ver com o seu pênis (ele na verdade interfere muito pouco naquilo que faço). Eu não uso shorts para mostrar as penas, saia ou calça branca pra deixar ver a calcinha. Eu não passo maquiagem para aprovação estética ou para chamar atenção, é só que eu me sinto bem assim. E eu quero, moço, que minha irmã de luta que não usa maquiagem não tenha que ouvir que é falta de vaidade. Eu quero que parem de chamar cabelo curto de Joãozinho, porque a Joana também fica linda assim. Eu quero que os condicionadores parem de falar que vão domar meu cabelo rebelde, eu gosto dele bem assim. Eu quero que parem de me julgar por minha sexualidade: nem puta, nem santa.
Moço, eu não sou muito magra. Moço, ela não é muito gorda. Moço, mulher tem estria e celulite sim. E, moço, nosso corpo não foi feito para sua aprovação. Nosso corpo foi feito para nós o amarmos, independente de como ele é. Sem padrões. Ah, e eu sei que pode parecer chocante, mas ele é nosso, viu? Ele não é do nosso marido, e nosso marido não pode nos agredir. Aliás, homem nenhum pode! O corpo é meu! Não é do estado, para ele decidir se eu posso abortar ou não. Não é do patriarcado, para vocês decidirem que eu sou frágil e fui feita pra ser dona de cabeça. Nós somos plurais, moço. Nós podemos decidir por nós mesmas. Nós queremos voz. Por enquanto sussurramos por nossos direitos, mas um dia gritaremos!
Moço, eu estou cansada de ver meu corpo objetificado. Vendido como cerveja. Eu estou cansada da mídia usar minhas curvas para atrair consumidores. E estou cansada dos padrões que ela estabelece. Pra ser bonita eu não tenho que ser magra e branca. Moço, esse padrão de beleza é massacrante! E isso também é violência.
Moço, atrás de um grande homem não há uma grande mulher. Nós estamos cansadas de ficar atrás. E esse dia, para mim, serve pra lembrar isso! Não quero que as grandes marcas que me vêem como produto venham me prestar homenagens (que na verdade são insultos)! Não quero que um homem me diga na rua que sem nós ele não seria nada. Não quero que me digam que sou carinhosa, delicada, que nasci pra ser mãe. As mulheres são plurais, moço.

Que Ana Carolina me desculpe, mas nem toda mulher gosta de rosas. Eu gosto de respeito.

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