Carta de Afrodite

Olímpio, 28 de março de 2010.

Prezado Zeus,

Peço que me retires de trabalho tão árduo como o que faço desde o início dos tempos. Eu, que sempre fizera os homens terráqueos se apaixonarem, não sabia o que era o amor. Agora, temo que este sentimento me destrua aos poucos, mas nada posso fazer. Finalmente entendo o que tu, querido pai, sentistes quando se apaixonou por mortais. Eu imaginava o amor mais feliz que isso: daqui de cima, onde as nuvens deixam tudo mais belo, eu via casais se amarem de verdade e até imaginava coraçõezinhos saltando de seus corpos. Até quando os deuses se apaixonavam eu achava tremenda a beleza no olhar dos casais, e corações angelicais saltavam igualmente dos corpos celestes enquanto borboletas sortidas faziam as homenagens pelo nosso céu.
Porém, comigo é diferente. Eu não posso, não devo. Apaixonar-se está fora de meu alcance, provocaria um desamor em todo o mundo mortal, e eu seria a culpada. Esse sentimento que várias vezes me pareceu tão bom, agora me arranca o coração. Vejo-me caída em desespero, nadando em lágrimas, sem poder correr, sem poder me esconder. E, afinal, do que correr ou me esconder? De mim mesma? Seria impossível. Minha beleza se foi, me sinto atordoada, os dias perderam a cor. Ao mesmo tempo em que é tão bom amar, esse sentimento foi meu destruidor.
Espero que tu me entendas, querido pai.
Afrodite

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