Rainhas Escarlates


Tinha na tez pálida e lisa, tal qual porcelana, leve rubor. Os olhos azuis lembravam o mar e seu brilho oscilava entre uma resignação doce e uma beleza magistral. Os lábios pequenos e delicados exibiam um sorriso tímido que carregava ares nostálgicos. A garota toda estava mergulhada numa penumbra de magia e de exuberância que a faziam como que uma princesa. Não lhe faltava ao menos coroa: o brilho dourado de sua aura servia como tal. Dir-se-ia que uma comoção febril a assaltava levando-lhe a tona toda gentileza e bondade, mas toda essa figura angelical que exibia não passava de uma máscara.
 O vestido de seda e o tecido cor-de-rosa, logo dariam lugar à armadura prateada e ao sangue escarlate, que cobriria ela toda com uma glória que os homens não acreditavam existir entre as mulheres mas que sempre fora presente e marcante. A submissão daria lugar a uma altivez quase ferina e o brilho que antes seus olhos exibiam lembrariam o olhar de uma fera prestes a atacar. A aura dourada, entretanto, continuaria ali. Intacta. Como que comprovava ao mundo a superioridade daquela que antes era tratada como a garota mais delicada do reino. Agora era sua dona.
Uma rainha que inspirava respeito, tal qual medo. Que fazia tremerem os homens mais fortes que ousassem encarar-lhe os olhos: agora cruéis, cortantes. Mostrou-se finalmente mulher: andava com a cabeça erguida, inspirando confiança. Seu rosto ainda exibia uma mascara: mas a intenção dessa era provocar medo. Seu olhar faiscava, suas palavras doíam aos ouvidos, embora sua voz fosse melodiosa, seus gestos eram calculistas, dissimulados. Sua risada ecoava, sua gargalhada penetrava a mente daqueles que a ouviam. Havia agora sobre ela uma atmosfera de realeza e altivez: não havia quem se opusesse à ela.
Ela estava lá não porque queria ser melhor que os outros, nem porque se importava com a riqueza, ou porque queria vingança. Estava lá para provar que toda princesa tem um pouco de rainha em si, e que ser rainha não quer dizer ser bondosa e gentil, que ser mulher nem sempre é assim. Que você pode mostrar-se tão forte quanto é, embora às vezes faça parte do jogo parecer fraca. O jogo escuro da ilusão, das sombras. Esse jogo que as mulheres dominam e onde as rainhas ditam as regras.
Ela estava lá pra mostrar que rainhas eram escarlates.
Representadas pela cor do sangue não só por sua força, mas por fazê-lo escorrer.

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