O fogo
continua fogo, a chama continua acesa, ainda corrosiva, mas sua luminosidade
mudou de tonalidade: agora não é um amor cor-de-rosa que flameja, mas sim uma
raiva escarlate, um ódio negro, um sentimento alaranjado. O sentimento ainda
está vivo, mas se transformou. E foi uma metamorfose válida, que me curou de
dores que me pareciam incessantes, e que agora só são más memórias de um tempo
em que fui suficientemente boçal para acreditar que havia algo de bom em ti,
e esperançosa o bastante para tentar levar isso à tona. Machuquei-me, é
verdade, mas em pouco tempo não restarão nem ao menos cicatrizes e essas
lembranças servirão apenas para guiar-me.
Aconselho-te,
todavia, que não chegues perto de mim enquanto houver faca ao meu alcance, pois
a empunharei sem misericórdia e sem remorsos, pois tu mereces todo o mal que te
causarem. Mas que o mal que eu te cause seja ainda pior: que toda vez que
estejas perto de mim sintas essa chama e que ela arda constantemente, que
sintas meu olhar cortante e ouças minhas palavras encantadas pela magia mais
negra e mais cruel. Que percas teu controle – que é crucial a ti – e vejas-te
insano perto de mim. Que minha presença faça-te suspirar, num misto de ódio e
idolatração.
Aceite:
sou-te superior.
E deixo-te a
ti e a tua memória para trás, e sei que isso dói-te o ego, mas não faço por tal
sapiência. Faço porque realmente superei-te e a tudo que um dia senti por ti.
Ainda há a raiva, mas a ti agora sou indiferente.
Largo-te com
tua maldade, que dela faças proveito.
Agora,
assumo as rédeas da minha vida.
Livre.
Liberta novamente.
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