Caos


Eu me sinto vazia e me odeio por ser tão oca. Odeio ter, como todos os outros, perdido meus sonhos. Engavetei tudo aquilo pelo que ansiava e passei a ansiar cada vez mais por coisa alguma. Ou por algo que nem eu posso identificar. Os dias passam e a sensação é de que os dias passam. É horrível não poder dizer que eles passam mais rápidos ou mais devagar, pois eles simplesmente passam. O tempo deixou de fazer diferença, assim como tantas outras coisas. Olhar o céu tão azul e puro, coisa que antes me fazia tão gigantesco bem, agora só me transtorna ainda mais: não é injusto e egoísta ter vontade de chorar quando lá fora se faz um dia tão bonito? As lágrimas caem, mas não são motivadas de sentimento algum. Elas simplesmente vêm do vazio e voltam para o vazio. Quisera eu ter impulsos grotescos e emoções que despertassem meus sentidos físicos, mas já não sou capaz de tê-las. Agora, o oco tomou o espaço do caos. Eu quero o meu caos de volta.
Eu quero o caos de não ter certeza de nada, eu quero o caos de falar o que eu quiser e fazer o que eu quiser. Eu quero o caos de poder querer. Eu quero o caos de ser eu mesma, pois agora até duvido de que eu exista. Estou viva, mas não existo. Os dias passam, e é apenas isso que significam para mim. Sinto-me em um abismo, sendo sugada, mas sem lutar contra nada, com uma resignação que causaria asco naquela menina que eu fui um dia.
Ainda sou essa menina? Será que ela está guardada em algum lugarzinho aqui dentro? Esperando ser liberta...
Preciso lutar. Agarrar-me a algo com ferocidade. Levantar a cabeça e sorrir. Sorrir do fundo do coração, não maquinalmente, mas com caos. Sorrir em meio a todo aquele caos que a felicidade costuma provocar. Preciso do caos de amar e do amor. Preciso do caos, é disso que preciso.
Talvez, apenas talvez, se eu me entregar ao caos, à luta, ao amor, à vida e a todos esses desafios que eu já amei tanto... Aí então, talvez o cansaço acabe e eu perceba o quão boçal fui ao deixar que esses sentimentos autodepravantes me consumissem e me dominassem. Eu não sou fraca, por mais que digam, e por mais de que eu tenha me convencido disso. Eu simplesmente tenho que deixar que minha força flua. E, quando fluir, ninguém poderá me domar, apenas eu mesma controlar-me-ei e aí estará a minha glória e a minha vitória. Serei eu mesma, apesar de tudo. E me amarei, sinceramente, a cada momento, a cada instante, sem precisar de nada que me prove o meu próprio valor.

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