Fazia um calor
intenso, há tempos não chovia. Animais e homens estavam sedentos, plantas
esturricavam-se e contorciam-se. A falta da água era sentida em toda parte e,
sem ter o brilho esverdeado para inspirar-lhe confiança, o povo esperava para
os próximos dias clima ainda mais quente e tempos ainda mais devastadores.
A cabocla Jurema via a falta de
fé de sua tribo com grande desgosto, mas não podia culpá-los: era difícil crer
em algo senão na dor depois de tanta tristeza que se revelou aos índios em
forma de caravanas e de uma gente cheia de ganância. Faltava-lhes a cor do Sol
na pele e, para ela, isso era um sinal de que não tinham dentro de si a bênção
divina da natureza.
A bela, entretanto, vivia a
sorrir e tentava contagiar a tribo com sua alegria. Por vezes dava certo, por
vezes seus esforços eram em vão. Mas não desistia da tarefa de fazer sorrir e
fazer feliz, assim como acreditava que, a cada dia de seca, os tempos de água
farta tornavam-se mais próximos. Aguardava o dia em que a chuva viria em
abundância, para matar a sede do povo, do bicho e da planta. E para, acima de
tudo, saciar a necessidade de esperança, de alegria e de amor. A chuva traria
de volta toda a fé de que os índios careciam nesse momento tão difícil.
Uma menina passou pela cabocla
limpando as próprias lágrimas e olhando para o chão. O olhar da indiazinha
parecia tão vago que, chocada e sentindo-se revoltar contra a situação, Jurema
decidiu que era hora de trazer de volta ao povo a luz dos olhos. Saiu em
disparada, com a cabeleira negra ao vento, as penas que vestia a dançarem pelo
corpo. Parecia, antes de índia, onça, tamanha era a afinidade de sua alma com a
mata e os bichos.
Com esse mesmo elo
incompreensível que a unia às coisas todas da natureza ajoelhou-se e desejou,
de todo o coração, que o mundo também se empenhasse, como ela, a fazer sorrir.
Sentiu as gotas molharem sua
pele morena e seu cabelo negro e liso de índia encharcar-se. Sorriu e, de olhos
fechados, em prece de agradecimento pela dádiva concedida, viu sorrirem também
todos os índios. A água da chuva secou as lágrimas da indiazinha.
Oi Janaína, muito bonito o texto... delicado... bem colocado... a narrativa e a subjetividade se encaixando lindamente... Adorei!!! Beijo............Megue
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