Sobre pessoas e flores violetas

Olhe para a janela. O que você vê? Vou contar-lhes o que eu vejo: vejo um céu tão azul quanto pode ser; vejo a casa da minha avó, com seu telhado velho e seu muro embolorado; vejo a árvore que lhe trás sombra florescida, salpicada de pontos violetas, o sol fazendo resplandecer seu verde. Chove uma chuva fina – assemelha-se a pingos de ouro à luz do astro-rei. Também vejo pessoas. Daqui de cima, vejo pessoas andando nas ruas lá embaixo. Entristece-me vê-las. Não são pessoas felizes – ou pelo menos não parecem pessoas felizes. Andam cabisbaixas, com os ombros dobrados e o queixo quase encostado no peito, olhando para baixo. A mãe leva as crianças pelas mãos – esbravejando a cada passo. E é bem assim: quando a criança se atreve a olhar para cima, se atreve a sorrir e a tentar o inesperado... Bem, aí a mãe lhe segura forte o antebraço e fala brava para que continue a andar.
A vida nos faz isso. A vida às vezes é uma mãe rabugenta que nos segura pelo antebraço. A vida às vezes não quer que vivamos plenamente. Às vezes a vida faz com que continuemos apenas sobrevivendo. A vida quer que vivamos ou que sobrevivamos? Ilógico.
Vejo algumas pessoas com os olhos bem abertos. Mas, revirando ao avesso a máxima, as portas de suas almas não estão abertas – nem as janelas. São pessoas atentas, a procura de ameaças. Pessoas com medo. Pessoas com medo de ter medo. Pessoas olhando ao redor assustadas. Elas vêem o mundo, mas não são capazes de enxergá-lo. Estão vendadas, essas pessoas. Seladas, fechadas. Presas. Presas cada uma a alguma coisa diferente, mas todas presas. Mal sabem quão bom é libertar-se.
Ninguém parou para observar as flores violetas – e elas só estão ali em certa época do ano. Imaginem só o céu! Quem para a fim de deslumbrá-lo se ele, afinal de contas, está sempre lá? E por que olhar? Por que deixar-se encantar? Por que libertar-se, já que é tão cômodo que tudo continue como está? Uma vida resignada e submissa é tão fácil de ser vivida... Talvez as coisas tenham sido feitas com o intuito de não haver esperança.
Espere.
É nisso que você acredita? Acredita que a vida não é feita para ser vivida? Vê a ela como algo cruel?
É isso que você quer? Deixar seu eu, sua essência, a si próprio com todas as particularidades e perfeições de lado e viver uma vida inventada, com alegrias falsas?

Você tem ? Você crê em algo? Bem, comece a crer em você.

Texto inicialmente escrito como prólogo do livro Percepção (escrita em andamento) de Janaína Sícari e adaptado para o blog Palavras de uma Menina.

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