Ressonância do momento

O cabelo molhado escorrendo pelo rosto; os olhos borrados pelo choro; a bota enlameada. Minhas unhas todas roídas num sinal de desespero, de urgência. Um sinal abafado, que ninguém escuta. Gritos ecoam no ar - gritos de dor, de solidão. Ninguém ouve. A ansiedade me corroendo o interior; meus punhos cerrados; as botas folk batendo no chão de madeira. A brisa se apossa do local, cortando minha face, roubando minhas lágrimas. O violão no canto da varanda: tantas emoções, dores e alegrias - momentos que já passaram e já se foram estampados naquelas cordas de aço que pareciam atrair-me, chamar-me, hipnotizar-me. Vi-me, de repente, a passos dele. Incontestavelmente já estava sob meu colo e meus dedos já saltitavam de corda a corda, acariciado os fios de metal, assim como o som acariciava meus ouvidos. Num doce acorde, tocando as notas do meu pensamento. Já não tinha mais unhas para tocar, tinha apenas as lágrimas e a brisa para conduzirem-me nessa melodia. Uma melodia sem fim, eterna.
Eu parecia estar dançando com os acordes. Estava sendo movimentada pelos meus ouvidos, sem consciência nenhuma. Tinha apenas os olhos fechados, as mãos dançando e a brisa levando embora meus pensamentos. Era tudo calmo e. aquele som, aquela melodia, me arrastava cada vez mais pra esse sonho. Sentia-me livre, leve, feliz. Alucinada em meio à notas que não paravam de ir e vir, tentando em cada verso, traduzir o meu sofrimento e deixar com que ele se perdesse na eterna ressonância do momento.

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