Está tudo tão vazio e sem sentido... A página me aguarda em branco e
as palavras não vêm dar o ar da graça. Ainda há todo um caderno para ser
preenchido – e páginas em branco me assustam. Pulei a primeira: não confio o
bastante em mim mesma para escrever numa primeira página – e talvez ela também
me assuste um pouco. Estranho pensar em como antes tudo isso me excitava e
divertia; desafiava-me.
Não peço mais para que me desafiem: sou meu próprio desafio e,
covarde, não sei como enfrentar-me. Entrego-me, portanto, ao ócio e à rotina –
e tenho asco dessa atitude fugitiva. Não mais permito que grandes sentimentos
me invadam a alma furiosamente – logo eu, que sempre me orgulhei de meus
ímpetos flamejantes. Meu eu vai dessa forma perdendo o preenchimento luminoso e
o contorno singular, ganhando o aspecto rotineiro e maçante dos espíritos que
não têm nobreza. Torno-me cada vez mais pérfida e superficial, escondendo meu
real brilho no mais profundo poço de meus labirintos.
Antes de perder-me nas linhas frias desse caderno, perco-me dentro de
mim. Mas não me perco em voluptuosidades: perco-me no oco e no caos do nada –
ao invés do caos do todo que sempre me apeteceu a alma aventureira. A aventura
também se perde; perde-se no unilateral dia-a-dia. Minha alma perde as facetas
de diamante; minha aura perde a cor – torna-se opaca. Perde-se tudo, menos a
covardia e o medo.
Eles me sufocam e enevoam-me a visão – fico sem reação, sendo que tudo
o que mais preciso é reagir. Pois que eu faça dessa confissão a minha reação e
que, reagindo, eu ganhe cada vez mais força. Emergir-me-ei dessas águas
tumultuosas que me afogam, graças ao poder sem limite das palavras que
proclamo.
Faço de mim meu mais sagrado santuário de minha própria luta.
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