Grande Pequenez


Apago e deixo de lado o que podia ser grande como um monte. Esqueço, porque não quero a grandeza. Quero o encanto das belas nostalgias, o encanto do pequeno e ínfimo, que faz a diferença que nada de maior nunca pôde. Não quero ser como o gigante que ataca, mas como o anão ágil que recua e evita, até que o outro tropece em seu próprio pé. Quero ser como fada delicada cuja pequenez da fantasia traz o sorriso à criança e a perplexidade ao cético adulto, e cuja magia faz nascer no seio de qualquer alma amor resplandecente. Sim, eu quero ser aquele pequeno brilho que resplandece. Eu não quero ser sol, mas quero ser lua: refletindo e emergindo na noite, como uma guardiã noturna. Quero ser o pequeno botão de flor, e não a grande e voluptuosa rosa vermelha florescida: pois que quero ser delicada e frágil, ainda que cheia de espinhos para me proteger, pois que quero ter sempre a capacidade de desabrochar em sentimentos unos.
E é dessa pequenez que me restituo oceano: e é esta alma pequena que faz-se eterna e infinita. Que escreve, e escrevendo perpetua. Eis aqui a minha aurora, o meu florescer. Eis aqui como me banho de raios dourados, como me inundo de alegria. Eis aqui como faço o meu ser ser mais que um: como viro coletivo e, virando-o, faço-o diferente. Sim, diferente. Eu quero mudar. Eu quero brilhar. E que seja uma pequena mudança: uma palavra, um sorriso. Mas que mude. Que seja um pequeno brilho: um amor, um olhar. Mas que brilhe e que ilumine. E que meus passos pequenos e luminosos possam guiar outros pela escuridão que eu mesma enfrentei, como se fossem vaga-lumes ensandecidos de paixão. Paixão pela vida que surgiu antes de rasgar o ventre de minha mãe, que surgiu antes de meus olhos presenciarem a luz do dia. Paixão pela vida: essa vida maior que é mais do que a existência.
Minha vivência é feita de paixão e é essa a engenhosa grandeza de minh'alma.

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